Trajetórias de docentes negras do ensino superior brasileiro na perspectiva de Frida Kahlo: manifestações contemporâneas do racismo e do machismo
Abstract
A presente pesquisa visa resgatar e analisar a trajetória das docentes negras de ensino superior privado e público nos seus ambientes, escolar e acadêmico. Esta pesquisa tem como objetivos específicos propostos: (A) Identificar e comparar o perfil das docentes negras de instituições públicas e privadas; (B) Resgatar situações de discriminação vivenciadas na escola e explicitar as atuais sofridas no meio acadêmico na atuação docente; (C) Conhecer o processo de construção da subjetividade e da identidade das docentes; (D) Avaliar o papel desempenhado pela família no processo de ascensão profissional e construção da identidade negra; (E) Analisar, na percepção das docentes negras, o impacto do padrão estético atual e a imagem da mulher negra na mídia no seu exercício profissional e na sua auto-estima. Foram investigadas 15 (quinze) docentes negras de instituições de ensino públicas e 16 (dezesseis) privadas, totalizando 31 docentes negras. A pesquisa é exploratória de natureza qualitativa, utilizou-se a abordagem etnográfica e a memória como recurso metodológico. Como instrumentos de pesquisa foram aplicados o questionário via e-mail, sendo que a maior parte da pesquisa se privilegiou as entrevistas presenciais. No aspecto metodológico para análise se fundamentou em dois marcos teóricos principais: a Análise de Conteúdo, Laurence Bardin (1999) e a Análise da Subjetividade, González Rey (2005). Além disso, adotou-se o recurso iconográfico, para a análise das falas das docentes negras, por meio das obras da pintora mexicana, Frida Kahlo. A partir desta triangulação metodológica foram sistematizadas três categorias e doze sub-categorias para análise. Assim, foi possível constatar que em sua maioria as docentes negras: são oriundas de famílias pobres de pais com baixa escolaridade; vivem situações cotidianas de discriminação e racismo desde criança como testemunhas do sofrimento vivenciado pelos pais e em suas próprias vivências na escola; possuem um histórico escolar e profissional pautado na excelência com alto grau de exigência de desempenho desde crianças, reproduzidas em suas atuações docentes; a família, a espiritualidade e o exercício da docência são fatores fundamentais no fortalecimento de suas subjetividades e identidades; as docentes percebem e sentem o processo de discriminação e invisibilidade que sofrem nas suas relações de trabalho; entendem como uma violação da mulher negra a forma como é ainda tratada pela mídia brasileira e pelo o padrão estético contemporâneo, pois rejeitam a identidade negra, principalmente na estética dos cabelos. Conclui-se que o processo violento do racismo combinado ao machismo na sociedade brasileira se manifesta de forma perversa, e muitas vezes, velada e que interfere no acesso, na valorização, no reconhecimento e na promoção das docentes negras nas instituições de ensino superior em que trabalham, ressaltando que no embate das relações de poder, mesmo qualificadas e alto grau de exigência em seus desempenhos, as docentes negras universitárias ainda estão em desvantagem. No geral, a situação é desfavorável pelas manifestações contemporâneas do racismo e do machismo: invisibilidade nas organizações, as imposições do padrão estético contemporâneo e a imagem negativa da mulher negra na mídia, a presença reduzida de docentes negras no ensino superior, o racismo acadêmico, impactando em suas atuações profissionais e subjetividades.